Revolução Russa, 90 anos depois - Balanço e legado
Quais seriam as principais lições e legados da experiência russa de 1917? Um tema amplo, mas que pode ser abordado especialmente com a necessária distância histórica que estes 90 anos nos deram.
Primeiramente, se a Revolução Francesa de 1789 dividiu o mundo político entre ‘direita’ e ‘esquerda’, a experiência soviética dividiu a esquerda entre os ‘reformistas ou gradualistas’ e os ‘revolucionários’. Até então, aqueles que reivindicavam o socialismo geralmente habitavam as mesmas organizações políticas. O modelo soviético, eternizado na consolidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), seria referência para boa parte da esquerda durante o século XX assim como a perspectiva do poder popular e a expressão conselhista de democracia exercida diretamente influenciou até mesmo regimes liberais na atualidade.
Durante o século XX, ainda, o temor da experiência soviética espalhada em outros países era permanente. Uma das principais expressões disso foi a chamada ‘Guerra Fria’, mas também esteve em todo o planeta na educação, na disseminação ideológica e nas disputas da ‘melhor forma de viver’. Para os socialistas, ao lado desta grande vitória, restaram inúmeras lições. Uma das mais fortes foi a impossibilidade do socialismo em um só país. Mesmo com crises capitalistas, não ocorreram grandes processos revolucionários embalados pela vitória russa. Insurreições derrotadas na Europa, a Revolução Mundial que não veio, a invasão da Rússia por uma coligação conservadora de dezenas de países, os conflitos internos e a perda de inúmeros quadros de alto gabarito foram fatores que levaram a Revolução Russa a certo esgotamento político a partir do final dos anos 1920.
A partir daí, ocorreu a consolidação de uma forte burocracia estatal que substituiu o poder soviético original. O Partido deixou de ser instrumento e se tornou um fim em si, acima da organização popular confundindo-se com o próprio Estado. Junto a isso, a idéia de socialismo combinado com liberdade virou uma espécie de sacrilégio político, pois a liberdade para a burocracia socialista era um valor da pequena burguesia e do liberalismo.
Triste engano que a história cobrou seu preço, pois a limitada liberdade capitalista acabou sendo um referencial para boa parte do povo que viveu sob o julgo soviético. São lições que boa parte da esquerda ainda não aprendeu. De qualquer forma, este quadro não impediu um extraordinário avanço social e cultural deste povo, um dos maiores consumidores de leitura em todo o planeta e que antes de 1917 se encontrava em boa parte iletrado. São méritos da organização econômica fora da anarquia do mercado.
A Revolução Russa polarizou seus defensores, críticos e ardorosos inimigos. Sua herança política permanece, mesmo que nenhum país atualmente se aproxime do modelo soviético original. No inconsciente de muitos, as lembranças desta experiência ainda causam temor, nostalgia ou ainda a esperança de sua renovação no século XXI.
Um comentário:
Olá Prof. Luiz,
Fico grato com a visita ao Amantes de Clio. Estou espiando seus belos textos acerca do mundo histórico. Como sempre atualizadíssimo.
Saudações cordiais,
Prof. Lima Júnior
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