sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

7 de setembro: Que independência é esta?


Historiador evidencia necessidade de resignificar conceito e contexto de um dos períodos históricos mais marcantes do País

Gritos, euforia, sentimento nacionalista e plena liberdade. Será que a nação conquistou sua autonomia no dia 7 de setembro de 1822? A tão sonhada independência do Brasil aconteceu nesse dia e pretendeu levar milhões de brasileiros ao destino da liberdade de expressão, bem como ao desprendimento de uma escravidão desenfreada e dependência socioeconômica. O dia da independência foi baseado no esteio político, por meio do qual D. Pedro I posicionou-se às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo, e, em seu tom mais ufano, exclamou ‘Independência ou Morte!’.
Em entrevista concedida à Gazetaweb, o professor de História Gustavo Pessoa, graduado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), explicou a respeito do contexto da independência, no qual todos os Países da América foram colônias no século XIX. O Brasil era a única colônia portuguesa. Durante o período inicial, segundo Gustavo, houve a implantação de um modelo econômico para viabilizar a produção açucareira, denominado Plantation, fundamentado no latifúndio e na monocultura. “Foi justamente este sistema social e econômico, aliado à escravidão, à monocultura agroexportadora e ao latifúndio, que permaneceu, mesmo após a independência do País”, afirmou.
O professor explanou que a independência viria à tona, mais dia ou menos dia, uma vez que já havia uma cultura nacionalista enraizada nos brasileiros, como também, fatores ligados à religião e à língua. “D. Pedro seria coroado Imperador para servir como instrumento político, pois asseguraria, exclusivamente, os interesses das elites”. A nação brasileira, de acordo com Pessoa, foi uma das últimas a proclamar a independência - os EUA colocaram-se em primeiro lugar, em 1776.
“A partir da independência, não se registrava nenhum progresso de ordem econômica importante. Era o momento em que saíamos de uma esfera de influência portuguesa e entrávamos na inglesa, que deteria o monopólio de comércio no Brasil. Muitas coisas mudaram, também, com esse dia. Nós somos, hoje, uma das grandes potências industrializadas do mundo” - emendou Gustavo.
Quando questionado acerca de um Brasil independente, o historiador alegou que são necessários investimentos em recursos humanos, e, principalmente, na educação. “Precisamos de governantes que estejam dispostos a enfrentar fases coloniais que ainda persistem, como favelização, marginalidade, a desvalorização do negro e a falta de inclusão social”.
Didática do educador
Gustavo Pessoa afirmou que, no período antecedente à década de 80, o ensino voltado aos alunos baseava-se em uma mera assimilação do que ocorreu no dia 7 de setembro de 1822. “Antigamente, os professores introjetavam o acontecimento na mente dos alunos e não se produzia uma reflexão sobre isso. De 85 para cá, já se vê uma crítica por parte dos educadores e estudantes quanto a esta independência falseada. Vários lados da história são mostrados” – revelou.
Perda de tradição
Com relação aos desfiles, o educador relacionou a tradição antiga ao tempo atual, onde não se observa mais a efetiva participação de estudantes de escolas públicas e particulares percorrendo as avenidas da capital, com suas fanfarras e agitações ufanistas. “As caminhadas perderam o apelo popular. Eu me recordo, no interior da Bahia, dos desfiles que tomavam conta das ruas; vivenciava-se um momento de entusiasmo. Hoje, muitos movimentos sociais, como o MST [Movimento dos Sem-terra] e a CPT [Comissão Pastoral da Terra] utilizam essa data para promover outra forma de discussão, a exemplo do grito dos excluídos. A tendência é que essa comemoração mude cada vez mais de figura” – concluiu.

Fonte:
http://www.gazetaweb.com/ acesso em 07/09/2010

4 comentários:

Adinalzir disse...

Para mim, esse dia da Independência do Brasil até hoje não se concretizou. Ainda é preciso muita coisa para ser feita nesse sentido. É preciso união, é preciso coragem, e principalmente ética.
Abraços e fique com Deus!

Professor Josimar Tais disse...

Infelizmente, a independência do Brasil não representou uma ruptura de domínios estrangeiros, e sim uma continuidade, embora que não mais de forma oficial. Continuidade também que perdurou, além do campo político, nos campos social e econômico por muito tempo. Talvez seja por isso que a data não é levada tão a sério como deveria. O desinteresse em celebrar o 7 de setembro na contemporaneidade pode ser um reflexo da insatisfação do povo em relação ao descaso político e à corrupção.

Pamella disse...

Olá Luiz Reginaldo,

Realmente temos que concordar com a opinião de Gustavo. Apesar de ter sido proclamado a independência, o que vemos na documentação do período é que houve uma necessidade de ruptura com Portugal. Mas infelizmente, nossa independência de fato não ocorre nessa data. Houve uma transferência de Metrópole, apenas.
Na obra de Caio Prado Jr., A formação do Brasil Contemporâneo, vemos que o Brasil sofreu um processo de sedimentação no que diz respeito aos processos históricos. A independência foi algo tão mal feito, que se esqueceu de mudar o quadro da sociedade de colônia, por isso ainda temos muitos resquicios como a favelização na nossa sociedade.

Abs,

Pamella

Luiz Reginaldo Silva disse...

Prof. Adinalzir, Josimar e Pamella fico muito grato pela passagem de vocês por aqui. A questão do processo de Independência do Brasil é um dos temas mais intrigantes da nossa história, onde não há uma verdade absoluta e com isso vamos debatendo com focos diferentes.um do outro

Abraços.

L U I Z