sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Estudar História

Vamos partir de uma pergunta despretensiosa: O que estudamos em história?

De modo simplificado podemos dizer que estudamos nossas relações sociais, culturais, políticas e econômicas; nossos comportamentos que têm por base nossas relações; nossa existência que se manifesta nas produções com as quais marcamos nossa passagem pelo mundo. Estudamos a vida humana tanto do ponto de vista de sua temporalidade como os processos que produzem os fatos dentro de um determinado período de tempo. Dessa forma, podemos dizer que a História relaciona-se com o Tempo. E, mais especificamente, ela relaciona-se com o passado visto a partir do presente. Ou, ainda, é o presente, procurando dar um sentido e uma explicação para o passado.

Mas, alguém pode perguntar: como estabelecer o contato com o passado? É possível estudar o passado? Voltaremos a isso mais adiante!

A marca humana ao longo dos anos, dentro do processo histórico, é, ao mesmo tempo, processo de produção da cultura e uma necessidade de perpetuação que se realiza pelo registro. Essa perpetuação se dá mediante os documentos, os vestígios e as marcas que compõem o patrimônio histórico e são o resultado da ação humana no tempo-espaço determinados. Ou seja, em sua temporalidade o ser humano produz marcas culturais e patrimoniais. Essas marcas servem não só para registrar a presença, mas também para perpetuar o evento, o fato ou os processos que produziram os fatos.

Todos os processos sociais, políticos, econômicos, ideológicos, marcam o tempo e o espaço. Em razão disso podemos dizer que tudo que fazemos pode ser chamado de cultura; que pode ser imortalizado nos elementos patrimoniais está inserido nas categorias tempo e espaço. A história dedica-se aos processos temporais, os quais, como sabemos, ocorrem em espaços determinados. O processo histórico, que é temporal, ocorre localmente. Daí a afirmação de que a história necessita de outras ciências: geografia, antropologia, sociologia, filosofia, etc. Embora cada uma dessas e de outras ciências possuam seus objetos específicos, a história se beneficia com seus avanços, pois, tudo acontece dentro das confrontações: tempo-espaço, portanto, todas as realizações são históricas.

Normalmente, em história, nos dedicamos à busca da compreensão das relações que ocorrem nas sociedades. Relações que envolvem os processos e aspectos da política, da economia e das relações sociais. Podemos dizer que todos os processos humanos envolvem esses três aspectos: A economia que é a base da sociedade é também a base das relações sociais e nestas se manifestam as relações de poder ou a política que dá sustentação ou abre perspectivas para as relações econômicas.

Sendo assim podemos dizer que estudar história é buscar a compreensão dos processos que produziram os fatos que marcaram o tempo. Isso é possível por que todas as coisas têm história e podemos estudar a história de tudo. Tudo que acontece e que aconteceu é história. A história, portanto, trabalha com o passado ou com as relações humanas do passado – mas faz isso no presente do historiador que é alguém situado em uma sociedade distinta daquela que é estudada. E já que tudo tem história, em tudo está a marca humana, assinalando as relações temporais.

Essa afirmação está em consonância com o que podemos ler nos PCN do Ensino Médio, ao afirmar que:

A pesquisa histórica esforça-se atualmente por situar as articulações entre a micro e a macro-história, buscando nas singularidades dos acontecimentos as generalizações necessárias para a compreensão do processo histórico. Na articulação do singular e do geral recuperam-se formas diversas de registro e de ações humanas tanto nos espaços considerados tradicionalmente como os do poder, como o do Estado e das instituições oficiais, quanto nos espaços privados das fabricas e oficinas, das casas e das ruas, das festas e das sublevações, das guerras entre as nações e dos conflitos diários para sobrevivência, das mentalidades em suas permanências de valores e crenças e das transformações advindas com a modernidade da vida urbana em seu aparato metodológico.
Á questão sobre o que estudamos em história, podemos responder dizendo que são as relações humanas a partir de suas marcas sociais, econômicas, políticas e culturais. Não esquecendo que essas ações humanas, também são resultantes de outras ações que as produziram. Não é demais, portanto, dizer que a história, enquanto ação humana, produz história, que são novas ações humanas. Neste ponto podemos colocar a indagação sobre como entender essas ações? Com quais instrumentos teóricos o homem atual, pode voltar-se para o passado, na busca de sua compreensão? E mais, é possível compreender o passado?

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Uma Análise da História

História Geral

A historiografia tradicional costuma utilizar cronologia, fatos, nomes de heróis, batalhas e outros eventos como os fundamentos de uma História que é incapaz de penetrar na essência da sociedade humana.

Há uma outra abordagem mais preocupada com as transformações que se operam no processo histórico, em particular nas estruturas da sociedade. Nesse caso, os fatos datados e localizados são a matéria-prima da História, mas não se esgotam em si mesmos. É essa História Nova, com novas abordagens, novos métodos e novos objetos que os examinadores estão utilizando nos vestibulares.

Periodização
A periodização clássica da História considera como marcos cronológicos:
IDADE ANTIGA – do aparecimento da escrita e das primeiras civilizações por volta de 4000 a.C. até a queda de Roma em 476 d.C.
IDADE MÉDIA – da queda de Roma até a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453.
IDADE MODERNA – da queda de Constantinopla até a tomada da Bastilha em 1789.
IDADE CONTEMPORÂNEA – da tomada da Bastilha aos dias atuais.

Os Processos Históricos

O Sistema Asiático
Uma análise sistêmica das civilizações orientais, destacando o Egito, Mesopotâmia, Índia e China, demonstra que os povos do Oriente Próximo, do Oriente Médio e do Extremo Oriente desconheciam a noção de propriedade privada. Por isso, a terra e os escravos pertenciam ao Estado e aos templos. Assim, a economia era estática, a sociedade de tipo estamental, o poder político despótico-teocrático, a religião politeísta e a cultura pragmática. Nesse sistema, os hebreus e os fenícios são exceções do ponto de vista econômico, político e religioso.

O Sistema Escravista
No escravismo antigo, a noção de propriedade privada já se notabilizava e o escravo era considerado um objeto, um “instrumento falante”. A Grécia Antiga e a Roma Imperial inseriam-se no escravismo. No quadro da crise geral do escravismo romano, podemos localizar o nascimento do sistema feudal.

O Sistema Feudal
Caracterizado pelas relações servis de produção, o feudalismo europeu marcou a História Medieval por mais de mil anos. Nesse sistema, a economia era fechada – auto-suficiente, com produção para o consumo – e a sociedade, estamental, imóvel, polarizada entre senhores e servos. O poder político descentralizado e a cultura religiosa são decorrências da própria estrutura de produção. O imobilismo do feudalismo levou-o à destruição a partir das fugas dos servos e do nascimento de uma estrutura dinâmica, comercial, pré-capitalista.

Do Feudalismo ao Capitalismo“Por volta do século XII, com a desintegração do feudalismo, começa a surgir um novo sistema econômico, social e político: o capitalismo. A característica essencial do novo sistema é o fato de, nele, o trabalho ser assalariado e não servil, como no feudalismo. Outros elementos típicos do capitalismo: economia de mercado, trocas monetárias, grandes empresas e preocupação com o lucro.O capitalismo nasce da crise do sistema feudal e cresce com o desenvolvimento comercial, depois das Primeiras Cruzadas. Foi formando-se aos poucos, durante o período final da Idade Média, para finalmente dominar toda a Europa Ocidental a partir do século XVI. Mas foi somente depois da Revolução Industrial, iniciada no século XVIII na Inglaterra, que se estabeleceu o verdadeiro capitalismo.”

O Sistema Capitalista
A história do capitalismo começa a partir da crise do feudalismo, no final da Idade Média européia. Ao longo de muitos séculos, as estruturas capitalistas foram se organizando e a sociedade burguesa afirmando-se como tal. No século XVIII, o capital acumulado primitivamente foi investido na produção, consolidando o sistema por intermédio da Revolução Industrial. Nessa ocasião, as antigas colônias libertaram-se do pacto colonial, mas depois um novo colonialismo constituiu-se para atender às necessidades e superar as crises típicas do sistema. As disputas coloniais levaram o mundo capitalista às duas Guerras Mundiais, ao mesmo tempo em que, no interior do capitalismo, multiplicavam-se as células do socialismo.

O Sistema Socialista
Em meio às crises do capitalismo e às críticas dos ideólogos socialistas, particularmente Karl Marx e Friedrich Engels, foram surgindo os elementos que levaram à criação do primeiro Estado socialista da História, por meio da Revolução Bolchevista de outubro de 1917. Na atualidade, com o fim do socialismo soviético e de outros Estados socialistas, as esquerdas estão repensando o socialismo como ideologia. No campo capitalista, a tendência predominante é o neoliberalismo, que reduz a influência do Estado nas relações sociais, bem como seu papel na economia. Todavia, as recentes crises nos mercados capitalistas emergentes, com seus reflexos no Primeiro Mundo, também estão obrigando à revisão do modelo neoliberal.

ARRUDA, José Jobson. História Moderna e Contemporânea. São Paulo, Ática, 1982.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Antropologia – uma pequena introdução

A Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos desaparecidos).

Além disso podemos utilizar termos como Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.

Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1970:377) a etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.

Qualquer que seja a definição adotada é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

HISTÓRIA: História é vida

Muitos alunos ainda identificam história como matéria que se memoriza. Nada mais grotesco ou anacrônico. Essa distorção é, em parte, herança da ditadura militar que impôs um ensino acrítico e não-reflexivo. Os tempos mudaram, mas alguns problemas persistem: a falta de leitura, a mercantilização, a má qualidade do ensino e sua desvinculação da realidade. Isso, é claro, incide sobre o estudo da história.
Mas, afinal, o que é história?
É o estudo do passado para entender o presente, mas de um passado vivo, que está presente em nós. Vejamos, por exemplo, a conferência contra o racismo que se realiza em Durban, na África do Sul. Ela nos remete aos séculos do colonialismo, da escravidão e do tráfico de escravos. Duas visões estão em conflito: a dos países ricos e a dos pobres.
As origens do conflito estão ligadas ao processo de afirmação e de expansão do capitalismo desde o século 15. Nele, os países do norte ficaram cada vez mais ricos e os pobres - cuja situação se agravou com a globalização e as políticas neoliberais - ficaram ainda mais pobres. Estes exigem reparações, pelo que sofreram.
Em nome do progresso e da civilização, os países capitalistas dominaram africanos, asiáticos e latino-americanos, sujeitando-os à miséria, à humilhação e ao preconceito. Daí o conflito: os pobres clamam por justiça e pelo fim do preconceito. A chama reacendeu-se, o passado vive.
A luta dos negros, dos índios, dos ciganos e dos migrantes, vítimas da xenofobia, é mais um sintoma de que a história não pode ser vista de forma única, homogênea, apenas pela óptica dos dominadores. Cada povo tem sua cultura, seus projetos e seu modo de vida, o que, por si só, questiona a visão etnocêntrica, a pretensa superioridade de uma civilização sobre a outra - no caso a branca, ocidental e cristã sobre as demais.
As vítimas do preconceito e do desemprego são hoje herdeiras de séculos de dominação e de exclusão social. Essa relação - passado e presente - constitui a essência da história. São as inquietações do presente que nos levam a reinterpretar o passado. A história é, portanto, uma ciência do presente.
A história não só está viva como é a própria vida. Quem ainda acha que história é "decoreba" inclua-se nela: é a melhor maneira de entendê-la.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Contribuição de Eric Hobsbawn na História

Eric J. Hobsbawm, conhecido como um dos mais respeitados historiadores contemporâneos, nasceu em 1917 em Alexandria, no Egito. Viena e Berlim são os cenários de seus primeiros anos de vida, época em que a Áustria e a Alemanha, devido à Primeira Guerra Mundial, padeciam com a alarmante crise econômica que se instaurara e a conseqüente agitação social que esta provocou. Em 1933, época em que Adolf Hitler ascendeu ao poder, Hobsbawm mudou-se para Londres, fugindo da perseguição nazista, mas principalmente por ter conseguido uma Bolsa de estudos na Universidade de Cambridge, onde forma-se em História.

Por causa de sua ideologia tornou-se um militante político de esquerda, filiando-se ao Partido Comunista da Grã-Bretanha, que neste momento apoiava o regime Stalinista – o mesmo que alguns anos atrás expatriara a ala esquerda do PC soviético, que contava com a participação de Leon Trótski, o criador da Quarta Internacional.

Atuou em diversas universidades da Europa e da América, como Professor visitante e lecionou até aposentar-se no Birkbeck College, da Universidade de Londres. Escreveu vários livros, dentre eles: A Era das Revoluções, A Era do Capital, A Era dos Impérios, Rebeldes Primitivos, Os Trabalhadores e os mundos do trabalho, Da Revolução Inglesa ao Imperialismo, Os Bandidos, Os Ecos de Marselha, Sobre História, todos eles publicados no Brasil.

A convite da Folha de São Paulo, Companhia das Letras e Diners Club, o historiador visitou o Brasil, quando ficou alguns dias na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro e ministrou uma palestra no Masp em São Paulo.

Analisar a contribuição de Hobsbawm para a Historiografia não é tarefa tão simples como parece, pra quem está ingressando agora no amplo e abrangente universo da História, sobretudo pela extensa lista de Obras por ele escritas; isso talvez exija um maior contato com as mesmas, pra que se analise detidamente o seu valor; mas, a grosso modo, exatamente por isso, pode-se deduzir o quanto tem sido valiosa a sua participação na elucidação de fatos históricos e tentativa de clarificar o movimento que existe no pensar e escrever sobre os processos históricos.

Segundo ele próprio expressa no prefácio do seu livro: Sobre História, a sua abordagem histórica é Marxista, e para ele, sem Marx não teria desenvolvido nenhum interesse especial pela história; foram Marx e os campos de atividade dos jovens radicais marxistas que forneceram seus temas de pesquisa e influenciaram o modo como escreveu sobre eles. Em artigo publicado pela Fundação Lauro Campos, em 21 de outubro de 2008, da autoria de Marcelo Musto, que discorre sobre a Crise do Capitalismo e a atualidade de Marx, o professor Hobsbawm afirma que Marx é, e continuará sendo uma das grandes mentes filosóficas, um dos grandes analistas econômicos do século XIX, e em sua máxima expressão, um mestre de uma prosa apaixonada.

Para Hobsbawm, a História não é uma simples descrição de fatos ocorridos ocasionalmente na experiência humana, mas a possibilidade de compreender os problemas que a caracterizam e quais devem ser as condições para sua solução. É fazer uma reflexão positiva dos fatos nos quais estamos inseridos, "por mais insignificantes que sejam os nossos papéis – como observadores de nossa época..." para ele, o ofício dos historiadores é lembrar o que os outros esquecem, o que consequentemente os torna de fundamental importância na construção da experiência humana.

Segundo ele mesmo assevera no prefácio do livro "Era dos Extremos", a principal tarefa do historiador não é julgar, mas compreender, mesmo o que temos mais dificuldade para compreender.

Em entrevista concedida à Folha de São Paulo, em 30 de setembro de 2007, quando questionado sobre a afirmação que fez em prefácio do seu livro: "Globalisation, Democracy and Terrorism", de que suas convicções políticas são indestrutíveis, Hobsbawm confirma que de fato sua convicção de ser de esquerda continua, mas algumas de suas convicções mudaram; que não acredita mais que o comunismo como foi aplicado poderia ainda dar certo; não se considera mais um revolucionário, muito embora não ache que tenha sido mau para ele e para a sua geração terem sido revolucionários.

Historiador consagrado como um dos observadores privilegiados do mundo moderno, Hobsbawm destaca-se pela sua valiosa contribuição à História, deixando atrás de si um legado de inestimável valor. Analisar a sua vida e a sua obra é símbolo de aprofundamento e investigação na elucidação de acontecimentos que construíram a história da humanidade. Sua incansável e contínua análise da história de diversas nações tem sido de extrema utilidade na compreensão das mesmas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

01.HOBSBAWN, Eric. A Era dos extremos. O breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
02.HOBSBAWN, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
03.SITE INFOESCOLA – Navegando e aprendendo (www.infoescola.com)
04.SITE DA FUNDAÇÃO LAURO CAMPOS – Socialismo e Liberdade. A crise do Capitalismo e a atualidade de Marx. (www.socialismo.org.br)
05.SITE HISTORIA NET – A nossa História (www.historianet.com.br)