sexta-feira, 4 de junho de 2010

Copista medieval


Quando copiar era um estímulo intelectual

Era a biblioteca, e não a igreja, o local mais provável de encontrar um monge copista na Europa medieval. Copiando às vezes para fugir do tédio, eles acabaram preservando a cultura ocidental.

Não há nada de original em pensar que, no princípio da vida monástica, os monges eram copistas e leitores assíduos. Se no século V eles copiavam manuscritos, era para escapar da ociosidade e para ganhar o sustento. Cultivavam essa atividade, mas também fabricavam pães, ou outros objetos de artesanato. Contentavam-se com um único livro, a Bíblia, cujas passagens aprendiam e sabiam de cor, sobretudo os salmos. A palavra bibliotheca foi empregada para designar os diferentes livros da Bíblia. A regra de São Bento (480-540), à qual sua ordem religiosa (conventos beneditinos), era submetida, menciona apenas o estudo das Escrituras.

Um outro italiano, Cassiodoro (490-581), fundou um mosteiro para organizar o estudo de textos religiosos e profanos. Antigo ministro do imperador bizantino Teodorico, Cassiodoro converteu-se à vida religiosa em meados do século VI e, após criar um mosteiro em uma das suas propriedades na Calábria, decidiu recopiar uma grande parte das obras latinas. No livro As instituições, fez uma espécie de catálogo analítico de sua biblioteca, e o elogio dos copistas: “Ao reler as escrituras, eles enriquecem sua inteligência, multiplicam os preceitos do Senhor, por meio das suas transcrições. Feliz aplicação, estudo digno de louvor: pregar pelo trabalho das mãos, abrir e dar seus dedos às línguas, levar silenciosamente a vida eterna aos homens, combater as sugestões do diabo pela pena e pela tinta…”. Depois da morte de Cassiodoro, uma parte dos seus livros religiosos foi transferida para a biblioteca de Latrão, sede do bispado de Roma. De lá, muitos acabaram na Inglaterra.

O Renascimento carolíngio foi gestado nos mosteiros da Gaula no sul da França, a partir do final do século VII. Com efeito, os monges de Luxeuil fizeram os manuscritos com uma nova escritura, tal como podemos ver no Lectionnaire – Lecionário – de Luxeuil. Os escribas, que recopiavam os livros vindos de Roma, aperfeiçoaram a escritura, ancestral da Carolina, a escrita caligráfica surgida na Europa entre os séculos VIII e IX, que originou a distinção de maiúsculas e minúsculas nas modernas escritas européias. Nas margens do Loire (a cerca de 200 km de Paris), as abadias de Saint-Martin-de-Tours e de Fleury (hoje Saint-Benoît-sur-Loire) possuíam ateliês de escritura já ativos. Nas margens do Sena, os mosteiros de Saint-Denis e Saint-Wandrille participaram igualmente dessa produção de manuscritos em miniaturas, mais bem escritos e, até mesmo, mais bem adornados.

Desse modo, assim que Carlos Magno restaurou as escolas e os scriptoria em todo o reino, ele investiu no trabalho dos mosteiros. Em sua célebre Admoestação geral, coleção de antigos cantos eclesiásticos, trechos da missa e responsórios, ele insiste em que cada clérigo e cada monge deveria aprender a gramática, o cálculo, o canto e as notas tironianas. E especifica que o trabalho dos escribas não seria confiado a jovens, mas a homens de idade adulta, de modo que os missais, os evangeliários e os livros de salmos não tivessem nenhum erro. A partir de então, a nova escrita iria se impor em todos os scriptoria. Chamada de Carolina, por causa de Carlos Magno, ela se caracterizava pelo tamanho pequeno, bem legível e regular, que encontramos na escrita atual, desde que os primeiros impressores do século XV a escolheram entre muitas outras.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito interessante, me ajudou a terminar um trabalho de historia.Obrigado!